3.3.06

bolas de sabão II



"(...)Antes de viajar de carro elétrico — respondeu, por fim, o velhinho — era industrial. Fabricava bolas de sabão. Uma ciência que vinha então de pais para filhos. Aparentemente fácil, como transformar o ouro em cobre. Mergulha-se um canudo na água do sabão e depois soprava-se. Assim... — o velhinho encheu as bochechas. — Da minha fábrica saíam por dia, para os cincos cantos do mundo, as mais vistosas bolas de sabão produzidas no país. O céu da cidade era um deslumbramento de balões coloridos, transparentes, diáfanos. Enquanto espetavam o nariz no ar, os homens não metiam o nariz nos problemas dos outros. E as mulheres tinham uns olhos mais belos por os abrirem desmedidamente à fantasia policrômica do espaço. Durante a noite havia milhares de luas que se precipitavam com suaves estampidos pelas chaminés das casas e vinhas aureolar nos jardins a cabeça dos notívagos, dos vagabundos e dos namorados.
E ganhava muito dinheiro com isso, senhor?
Oh, não — suspirou o velhinho. — Os poetas não ganham dinheiro. Um dia tive que fechar a fábrica. Os poetas não ganham dinheiro. Já nem me fiavam o sabão. Tentei ainda, numa água furtada, produzir bolas mais econômicas.(...)"

in "o elétrico" de Santos Fernando

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Mas não desististe de de fazer Bolas de balão....Pois não???
Nem que seja para as pessoas que te querem bem!
Beijos,
Susana Oliveira - Rio Tinto

12/3/06 10:48 da tarde  

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