21.3.06

Dia Mundial da Poesia - 21.03.06

Senta aqui e recita...

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente

que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração

FERNANDO PESSOA

9 Comments:

Blogger patchouly said...

Mas que é isto? Porto? onde é que está o Porto nesta foto? Não te estarás a esticar com o Brasil, Ó TMC? E o Aeroporto? Embarcaste ou não? E o que é que o Fernando Pessos tem a ver com Niteroi?

21/3/06 11:19 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

................pela foto. mas confesso que mais pelo poema. Já conhecia, mas hoje gostei mais!
Foi escrito no dia das mentiras:)

21/3/06 11:24 da manhã  
Blogger JC said...

esta foto ganhou por aí algum concurso não?!
é de facto uma bela foto!
de todo merecedora da presença aqui no blog!
e vistas assim as coisas, o fotógrafo também é um fingidor!

21/3/06 1:16 da tarde  
Blogger tmc said...

A Foto não é do Porto não!
Foi postada ao abrigo do Art. 'e não só'.
Mas também o que interessa isso?
Se hoje é o primeiro dia de Primavera,
Se hoje é dia da árvore,
Se hoje é dia mundial da poesia.
Poesia é sonhar,
é imaginar,
é surrealista,
é imaterial.

e eu fingidor?
Quem me dera... conseguir fingir

21/3/06 1:30 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

:))
Então também não interessa a minha "quase" calinada!

21/3/06 2:05 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Era uma vez um poeta.
Era uma vez um poeta andarilho com cara de lua cheia.
Tocava as estrelas com o brilho dos olhos.
Levava no bolso um pedaço cortado do céu,
e o sol bordado em lençóis.

Era uma vez um poeta chamado poeta.
Trazia o peito tatuado de espanto.
Refletia em seu sorriso a noite e também o dia.
Entre os cabelos, escondia ventanias.
E mesmo carregando todo o peso do mundo,
tinha alma de algodão.
Uma alma triste de quem é feliz!

Era uma vez um poeta
que vestia terno de vidro e chapéu de tempestade.
Sua poesia seguia por uma longa rua,
uma rua que passava por muitos países.
Por ela, o poeta caminhava
equilibrando-se na corda-bamba de seus versos,
enquanto desfazia pequenos nós de sua alma de algodão.
Caminhando por ela, ele conheceu muitos, muitos lugares.

Certa vez,
passou por uma cidadezinha perdida no tempo,
pincelada por velhos telhados,
que escorriam generosos por suas ladeiras.
E naquele lugarejo,
o poeta foi embalado por cantores da noite,
escondidos em porões.
Levou de lá bonitas lembranças, já desbotadas pela memória.

Tempos depois,
o poeta alcançou a boca da noite,
e lá encontrou uma casa,
feita com paredes de farinha e chão batido de solidão,
Dentro da casa, viu a moça
que costurava uma colcha de retalhos,
apertando os pontos com a agulha fina de seu desejo.
E ele se encantou da vida...

Mas o poeta andarilho
também conheceu lugares de estranhos hábitos,
onde as pessoas afogavam suas mágoas em aquários
e depois dormiam mergulhadas em travesseiros de ilusão.
E ele desconfiou da vida...

Ah! Mas sua vida era caminhar...
Por onde passava o poeta, chovia flor lá da peneira do céu.
E ele, que gostava de festa,
tecia com suas rimas coloridos paus-de-fita, só de brincadeira!
Nas linhas de seus versos, roupas eram estendidas ao vento.
E assim foi fazendo muitos amigos.

Mas ele também chorou
sobre os túmulos anônimos que encontrou,
e pôde sentir nostalgia de um tempo que nunca viveu.
E compreendeu a vida...

Às vezes, cansado de caminhar,
seguia voando nas asas de sua imaginação
e fazia versos azuis, verdes, versos de canela e de hortelã...
Até que, num meio-dia de fim de primavera,
o poeta teve um sonho como uma fotografia:
ele viu em seu caminho uma pedra.

No meio do caminho havia uma pedra.
Havia uma pedra no meio do caminho! E agora poeta?
Mas como todo poeta é um fingidor,
ele fingiu que não a viu e continuou seu caminho.
E então já não havia nenhuma pedra
para desviar seu poema em linha reta.
E desafiou a vida...

E finalmente, depois de tanto caminhar,
o poeta chegou em Pasárgada.
Lá ficou amigo do rei!
E teve a mulher que quis, na cama que ele escolheu.
Deitou-se com Adalgisa,
contraparente de Joana, a louca de Espanha.
Lá, ele amou Adalgisa.
E como ela se fazia bela!
Lavava os cabelos com azeite e
pintava as unhas com café preto.

Depois dela, nunca mais foi feliz.
E passou a escrever muitas cartas de amor.
Cartas de amor ridículas, como as outras.
E ele se esqueceu da vida...

Mas o poeta continuou seguindo,
vagando pela rua de seus versos,
espalhando sua saudade em folhetos de cordel.
Testemunha de caminhos,
Testemunha de quietudes.

Até que um dia
por uma escada em caracol,
o poeta subiu, subiu, subiu,
até sepultar-se no céu.

E ele abandonou a vida...

(Vanessa Valente)

21/3/06 2:13 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olha que triste...Tinha que aparecer uma Adalgisa para lhe estragar a vida!! :))

21/3/06 2:49 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

É verdade CC, já viste? (Coi)Tadito do Poeta... ;)

22/3/06 8:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Mas é lindo, o texto!

22/3/06 8:45 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home